Fimose na infância: problema?

diagnóstico infantil

A fimose em meninos normalmente não é motivo para preocupação. Raros são os casos que realmente requerem a execução de cirurgia:

Fimose e crescimento

Talvez você já saiba que fimose é a impossibilidade de se expor a glande ("cabeça" do pênis), devido à não-retratibilidade daquela porção de pele chamada prepúcio.

Mas pode lhe ser novidade que quase todos (mais de 95%) os meninos nascem com fimose, ou seja, com um prepúcio não-retrátil.

O prepúcio tende a se tornar retrátil (capaz de expor a glande quando puxado para trás) naturalmente, ao longo de um período de tempo que pode variar desde os primeiros anos de vida até a puberdade (adolescência).

O importante é que, ao longo desse período de desenvolvimento, a fimose seja fisiológica e não patológica. Continue lendo para entender o que isso significa.

Condições mecânicas

Mas o que exatamente pode impedir a retração do prepúcio? São duas as principais condições mecânicas responsáveis pela fimose antes da puberdade:

1. Aderências

O lado interno da pele encontra-se colado a uma ou mais regiões da glande. É uma condição normalíssima durante os primeiros anos de vida, com as superfícies tendendo a se descolar ao longo do tempo.

2. Prepúcio estreito

A abertura do prepúcio (anel prepucial ou fimótico) não é suficientemente larga para permitir a passagem da glande. Também é uma condição normal em crianças, com o anel da fimose tendendo a se alargar com o passar dos anos.

Tipos de fimose

Fimose fisiológica (congênita)

Quando as condições mecânicas causadoras da fimose são congênitas, ou seja, presentes desde o nascimento, ela é chamada de fisiológica. Essa é uma condição normal, tendendo a ser gradualmente resolvida ao longo da infância e até mesmo da adolescência.

Na fimose fisiológica, a pele do anel fimótico é saudável, e faz uma espécie de "beicinho" quando se exerce ligeira tração na direção da retração.

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Foto de fimose fisiológica

Fimose patológica (adquirida)

Quando a abertura prepucial do menino se estreita ou se enrijece devido a alguma doença de pele ou lesão, a fimose é chamada de patológica ou adquirida.

Suas principais causas são:

  • Postites (inflamações do prepúcio) devidas a dermatites amoniacais: quando as fraldas do bebê ou criança ficam muito tempo sem serem trocadas, a urina (que após determinado tempo se transforma em amônia) pode inflamar o prepúcio e causar seu estreitamento. A inflamação do prepúcio é chamada de postite; quando, além do prepúcio, a glande também fica inflamada, é dado o nome de balanopostite.

  • Postites devidas à ação de micro-organismos: quando as fraldas sujas não são trocadas frequentemente, também são abertas as portas para a proliferação de bactérias e fungos; esses micro-organismos podem inflamar o prepúcio e causar seu estreitamento.

  • LEA/BXO: o líquen escleroso atrófico (também conhecido como balanite xerótica obliterante) é extremamente raro em crianças, mas também pode ser uma possível causa de fimose patológica na infância. Essa inflamação crônica da pele está associada ao surgimento de lesões que causam um enrijecimento da abertura prepucial. Nesse caso, a pele tem um aspecto fibroso, lacerado e esbranquiçado.

  • Lesões repetitivas: inflamações crônicas causadas por lesões recorrentes, como frequente retração forçada do prepúcio, também podem causar fimose pois geram tecido lacerado e cicatricial, o qual é mais rígido do que a pele não lesionada. Por essa razão, é importante não tentar acelerar o processo de liberação do prepúcio forçando a sua retração. Até mesmo as "massagens" são desaconselhadas, pois podem gerar micro-traumatismos que, ao cicatrizarem, acabam deixando a abertura prepucial ainda mais estreita. Não deve existir pressa na resolução da fimose fisiológica: é perfeitamente normal que ela só se resolva completamente durante a adolescência.

Fotos

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Postite - exemplo 1

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Postite - exemplo 2

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Balanopostite severa

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LEA - exemplo 1

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LEA - exemplo 2


A boa notícia é que a grande maioria dos casos de fimose patológica é reversível.

No caso das dermatites amoniacais, a simples adoção de uma rotina mais frequente de troca de fraldas e enxague da região genital normalmente é suficiente para a regressão de inflamações. Além disso, as postites devidas a micro-organismos são normalmente tratáveis com antibióticos ou fungicidas, e o LEA em alguns casos pode ser revertido com a aplicação de creme esteróide ultrapotente.

Além disso, nem toda inflamação ou infecção no prepúcio é sinônimo de fimose patológica: existem quadros de fimose fisiológica (que é a regra, e não a exceção, durante a infância) em que a manifestação de alguma dermatite ou doença de pele não contribui para um adicional estreitamento ou enrijecimento do prepúcio, e portanto não caracteriza uma fimose patológica.

Esse é somente um exemplo dos vários tipos de desinformação em relação à fimose que circulam não somente em ambientes leigos, mas até mesmo em um número significativo de clínicias e hospitais. Você gostaria de conhecer outros, para evitar que seu filho seja vítima de algum erro médico? Clique aqui.

Referências

- Shahid SK (2012). Phimosis in Children. ISRN Urology, 2012:707329. - Thorvaldsen MA, Meyhoff H (2005). Phimosis: pathological or physiological? Ugeskr Læger, 167(17):1858-62.
- Wright JE (1994). Further to "the further fate of the foreskin". Medical J of Australia, 160:134-5.
- Beaugé M (1990-1991). Conservative Treatment of Primary Phimosis in Adolescents. Saint-Antoine University, Paris VI.
- Neill SM, Tatnall FM, Cox NH (2002). Guidelines for the management of lichen sclerosus. British J. of Dermatology, 147:640-9.